Empreendedores em fase inicial ainda veem o investimento anjo como algo distante e inacessível. Em um ambiente descontraído, os investidores e empreendedores comentaram sobre suas experiências citando boas práticas, custos que valem a pena arcar e alguns pontos primordiais para o investimento ter maior chance de sucesso.
Dividimos em três posts o que as investidoras Aline Souza e Cláudia Lopes, junto com os empreendedores João Kraemer, empreendedor da Nnatho Technologies, e Marcos Ramos, da Easy Crédito, mediados pela Diretora Executiva da Anjos do Brasil responderam sobre as perguntas dos presentes.
Parte 1 de 3: desmistificando o investimento anjo
Um dos primeiros assuntos que surgiu foi a diferença entre Equity Crowdfunding e Investimento Anjo.
O primeiro é uma modalidade de captação de recursos para financiamento via plataformas online que permitem dezenas de pessoas, geralmente com aportes de valor menor (a partir de R$1.500 ou R$2.000), investirem em uma startup. Geralmente, no Equity Crowdfunding, o poder de escolha do empreendedor, com relação ao perfil do investidor, é mais restrito, sendo um investimento financeiro por parte dos investidores.
Já o Investimento Anjo, é a modalidade na qual o empreendedor e o investidor se conhecem e trocam muita informação sobre o modelo de negócio, anteriormente ao investimento. O aporte de um investidor anjo, geralmente conta com uma cifra maior, entre R$20.000 e R$100.000 para cada investidor. A escolha da startup na qual fazer o investimento, frequentemente é uma combinação de identificação pessoal e profissional com o empreendedor e também (se não especialmente) com conhecimento sobre o mercado que o investidor tem. A experiência prévia do investidor é muito relevante no investimento anjo.
Independente da modalidade, a quantidade de investidores é um tema que foi discutido: “É bom, ou é ruim ter muitos investidores?”; ou ainda “Como construir e manter o relacionamento com os investidores?”.
Marcos Ramos disse que, no início, achava um problema ter muitos sócios; mas “hoje, tenho 35.” – ele conta. Marcos relatou que na conjuntura atual da EasyCrédito é bom ter uma diversidade de investidores, pois ele pode ativá-los para necessidades distintas da organização, como por exemplo contatos comerciais, ou coaching. O essencial é manter uma comunicação transparente e apresentar dados consistentes.
Segundo Maria Rita e de acordo com os investidores presentes, “o combinado não sai caro”. O João Kraemer, por exemplo, ressaltou que um dos pontos chave é dedicar tempo e recursos com um bom advogado, para que os termos e as condições estejam claros, desde o princípio.
A Anjos do Brasil disponibiliza modelos no seu site para que empreendedores e investidores possam ter referências de boas práticas na elaboração de contratos para investimento em startups. Foi muito conversado sobre esses modelos não serem encarados como minutas. É de extrema importância que cada investidor e empreendedor avaliem seus contextos, condições e necessidades e redijam um contrato específico que reflita os combinados estabelecidos entre eles.
Um dos presentes perguntou se o melhor método para avaliar uma startup é o desconto a valor presente do fluxo de caixa de cinco anos.
Foi consenso entre os investidores e os empreendedores presentes que esse método, que aprendemos em escolas de negócio, é adequado para empresas já estabelecidas no mercado. A única certeza que uma startup tem hoje é de que ela vai mudar! Então, prever um fluxo de caixa de cinco anos, é um tanto irreal.
De modo geral, mas principalmente quando há vários sócios envolvidos, é necessário fazer um valuation que faça sentido para os envolvidos nas negociações. O objetivo é garantir que nas próximas rodadas de investimento, empreendedores mantenham porcentual adequado ao grau de envolvimento dele no negócio. O bom investidor entende a importância disso.
Sobre o momento do valuation e assinatura de contrato, a investidora Aline Prudente acrescentou ser a hora de: “alinhar expectativas e realidades”. Além disso, sobre o relacionamento investidor-empreendedor o tema da transparência apareceu novamente como ponto essencial. “perder o dinheiro não é o problema” – disse Maria Rita – “o problema é perder o recurso sem ter seguido o roadmap combinado.”.
Além do valuation, para analisar uma startup, investidores distintos têm diferentes métodos de avaliação. A investidora Claudia Lopes diz que primeiro olha com cuidado o time da startup e depois, o plano de negócio; em seguida, o problema abordado pela organização e a solução que os empreendedores desenvolveram. Em todo o processo de avaliação, o que vale é ser realista! Além de compreender e aceitar que há diversos elementos também intangíveis e improváveis que balizam a decisão do investidor.